Isn't it ironic?




"(...) As palavras guardam o que julgamos ter perdido para sempre, é por isso e para isso que escrevemos, para resgatar o impossível. (...)"

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

I came in like a wrecking ball..


Há momentos em que a nossa vida muda, muda para sempre. E desejamos voltar dois segundos atrás. Dois apenas. Desejamos retroceder no tempo, desejamos voltar ao momento em que tudo parecia ser “normal”. Desejámos voltar aos dias em que era importante comprar aquele vestido, arranjar o cabelo, dizer adeus sem abanos, desejamos voltar aos dias em que nos deitamos na nossa almofada sem ter “nada” que nos tirasse o sono.

É quando se ouve aquela notícia, que nunca esperaria ouvir, que o chão lhe foge. E foge-lhe para tão longe que o bom senso foge com ele. E vêm os calores, a falta de ar e de força. E vêm à cabeça imagens que não queremos. É, quase como, deixar cair uma bosta de azeite, que quando corremos para limpar, fica cada vez mais sujo e peganhento.

Dói, dói muito.

E depois da dor, vem a revolta. E depois da revolta, vêm as vertigens, os pesadelos e as lágrimas salgadas.

São momentos tão inexplicáveis e tão ruins, que o tempo pára. E queremos que seja um pesadelo. Queremos que não seja verdade.

“Ok, eu agora vou abrir os olhos, vou respirar fundo, e vai desaparecer. Não vai ser verdade.”

Tão bom que assim fosse. Tão bom.

E depois de chorar, berrar, gritar, bater com a cabeça nas paredes, dar socos nos peitorais do marido, você constata que a realidade se mantém. Ela não é alternativa, nunca foi.

Depois de vários momentos repetidos, chega o momento de parar. Limpar os olhos borrados, pedir um lenço e assoar-se. Levantar a cabeça e começar a pensar. Vem cá fora, fuma um cigarro, ou dois, ou três e começa por surgir uma luz. E depois a força para correr em direção ao chão que fugiu. Encontra-o e abraça-o, pede-lhe para que não fuga de novo.

Começa a ganhar côr, começa a sentir o cheiro da esperança e o abraço da fé.

Cruza as mãos e os dedos e começa a falar com Deus. É altura de fazer o pedido mais forte que alguma vez foi feito.

Cura a minha mãe, meu Deus. Dá-lhe força, fá-la acreditar que é possível vencer.

E passado uns minutos consegue dizer “ okay, a minha mãe tem um cancro.”

Minutos depois e já acrescenta “bora lá, então, combater esse motherfucker.”

E, apesar dos calmantes serem o nosso melhor amigo nas noites que se seguem, voltamos a conseguir pensar. E choramos. Claro que choramos. Mas choramos porque não queremos , não, por não acreditarmos.

Porque é possível. Eu sei que é possível. Porque no meio de uma notícia tão berrante e tão cruel, há sempre alguma coisa menos má. E nela que nos temos de agarrar, com unhas e dentes, para o que der e vier. E ter força, muita força. E dar muitos beijinhos na boca à nossa mãe. Dizer-lhe o quanto é bonita. O quanto é forte e fofinha.

Esta luta ainda agora começou, mas tenho esperança, fé e força para poder acreditar que vai ser  SÓ mais uma superação. E, mais tarde, de mãos dadas, vamos olhar para trás e recordar como é possível vencer. Acredito nisso. Acredito mesmo!

Por isso Sorria.

Sorria mesmo quando chove. Mesmo quando tudo está preto. Sorria

Sorria quando parece que não é possível. Sorria sozinha. Sorria sempre.

E mesmo quando recebe um abanão, sorria-lhe. Mostre-lhe do que é capaz, porque é possível.

Amem-se uns aos outros, e mostrem-no.

Não deixem para amanhã!