Isn't it ironic?




"(...) As palavras guardam o que julgamos ter perdido para sempre, é por isso e para isso que escrevemos, para resgatar o impossível. (...)"

terça-feira, 3 de maio de 2011

L-O-V-E

Poiss é.
Dizem que a envelhecer é a Lei da vida (pelo menos quando se chega lá), e por isso temos de aproveitar os anos para irmos ganhando habilidades suficientes, que tornem esta fase menos má e menos triste. Se é que isso é possível.
Nunca desmenti que a velhice me faz uma certa confusão. Nunca desmenti que mais facilmente me sensibilizo com um idoso que com uma criança. Nunca desmenti que é difícil assistir a todo um processo corta-tempo, talvez seja dos mais dolorosos de sempre e para sempre. Excepções à regra existem sempre, não perco tempo a menciona-las.
Olhar para os tesourinhos lá de casa e não sentir um arrepio, é porque dia não é dia.
Ás vezes tenho tanta raiva de mim que me torno insuportável, falo alto para depois me arrepender, bato com a porta por coisas sem jeito, quando ela deveria estar aberta sempre para o que der e vier.
Depois de que vale o remorso? Pior que NADA, porque ele não vale de nada, porque ele não atenua nada nem significa nada.
Pior que esta crise palpável de dinheiro, é ter noção que o tempo não pára. Ele tem fome de comer, comer, comer, comer. Tem fome de nos tirar as coisas boas que temos na nossa vida, tem fome de as deteriorar sem dó nem piedade. EU, cachopa estúpida, porque não tenho outro nome, esqueço-me mil vezes durante o dia e a noite, do quanto certas pessoas me são tudo, do quanto essas mesmas pessoas fazem parte da minha história e do meu coração.
Depois de bater com a porta, vem a vergonha de o ter feito. Depois de dizer uma coisa menos boa, vem a tristeza de o que aconteceu não dever ter acontecido. Depois de sair de casa de manhã sem um ‘BOM DIAAA’, vem a vontade de voltar para trás.
O mais estúpido? Para além de mim?
O mais estúpido é talvez ter noção de tudo isto e cair no mesmo erro sempre que a vida me corre mal, sempre que o facto de os ver envelhecer acabar, todos os dias, com um bocadinho de mim. É, talvez, pelo facto de não gostar de sentir o que eles, próprios, sentem. Olharem para trás e verem o que foram e no que se transformaram.
Falam em velhice saudável.. tretas! As transformações são uma certeza, as nostalgias, essas então, acompanham cada passo de toda a coisa que muda e que se transforma.
Olhar para os meus avós, viver com eles desde sempre, implica estar preparada para tudo, a toda a hora. Implica ser grande como eles, implica barafustar com o avô sempre que ele acha conseguir levantar-se do banco fundo do carro da minha irmã, quando isso há muito deixou de ser possível.
Perdermos alguém no tempo e no espaço dói. Entendermos que alguém se deteriorou para sempre é um exercício de vida, para a vida, que dura uma vida.
E é por isso que amo a minha casa, por muito que seja a mal humorada. Que daria o meu tempo pelo tempo deles, as minhas alegrias pelas tristezas deles. Que os meus avós são, igualmente, meus pais.
Que nunca é demais dizer que os amo e que estão comigo desde sempre, para sempre, aconteça o que acontecer.

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