Nunca fui muito boa em falar de pessoas de uma forma específica, mais ainda quando penso em alguém que faz parte da minha vida de uma forma contínua e profunda. Há sempre alguma coisa que fica por dizer, ou pela dificuldade dos meus paradoxos e imprevísibilidades.
Quando falamos de amor a coisa torna-se quase como núvens de algodão doce, sendo que podemos imaginar 'se' mas, dificilmente, podemos afirmar 'que'.
Quando falo, ou escrevo, ou penso, sobre a minha relação, não temo ser mal interpretada, porque pura e simplesmente ele não lê o que eu escrevo e raramente pergunta o que eu penso, mas temo ser injusta, pelo simples facto de eu ser Vénus e ele Marte.
Antigamente, quando as borboletas invadiam o meu sistema digestivo e os suores frios incendiavam toda a parte visível e invisível do meu corpo, as palavras saiam de forma tão espontânea e rápida, que eu em menos de cinco minutos tinha uma história de amor para contar, com vírgulas e parágrafos.
Hoje, e porque as coisas mudam, e porque cresci e porque invés de ser uma sonhadora prefiro a sensação de me sentir realista, e porque sim e porque não.. as histórias demoram um pouco mais a fluir, as palavras ganham algum receio de sair, os movimentos ganham algum orgulho e a sensação de que os sonhos não existem, ditam, muitas vezes, a fuga das borboletas e o nervos dão lugar à simplicidade dos factos.
Sou suspeita para falar de amor. Por me sentir meio céptica e por estar com alguém que me parece, desde sempre, uma pessoa pouco ligada aos afectos. E isso baralha, não o que eu sinto, mas a forma como me revejo a longo-prazo. Porque eu não temo dizer, alto e em bom som, que os meus pensamentos se baseiam numa perspectiva a longo prazo. Gosto de pensar no futuro, isso dá-me segurança e alimenta a minha vontade de seguir em frente. Essa sensação de seguir em frente que as mulheres de hoje não sentem.
Eu gosto de sentir que gostam de mim, ontem, hoje, amanhã e depois de amanhã. A ideia de cair no esquecimento de alguém que faz parte de mim, hoje, assusta-me. E temo sim, temo todos os dias. Temo pela saúde, pelo amor, pelo respeito, pelas brigas, pelo dito e não dito. Temo apenas, porque sim.
E apesar de tudo pelo que já passei, pelas noites mal dormidas, pelos murros na mesa e sufocos de insegurança, choros de brigas sem jeito, esperas intermináveis e sentimentos de culpa, hoje posso garantir com todas as minhas forças que te amo.
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